sábado, 22 de outubro de 2011

" Carta sem destino"


Ao mar


Escrevo esta carta com o único objetivo de aliviar um pouco esse meu sofrimento, essa minha interminável luta para arrancar de mim, de uma vez por todas, esse vício que não me larga.


Sou jovem e meu maior desejo é voltar a estudar, trabalhar em busca de um futuro melhor, conseguindo ter uma vida digna e saudável.


Maldita a hora que iniciei neste mundo das drogas ainda tão jovem e jamais imaginei onde elas poderiam me levar, não pensei que iria chegar ao fundo do poço destruindo a minha vida e de minha família. Achei que podia me controlar, que só estava experimentando e que não me viciaria. Doce ilusão.


Passei a ser uma dependente química me autodestruindo e quero sair desse pesadelo, dessa angústia que me consume. Sei que se continuasse o que me restaria mais a frente era o caminho que me levaria à morte.


Precisei muito de ajuda e com o apoio de minha família consegui me recuperar após alguns meses de isolamento internada em uma fazenda para recuperação de dependentes químicos.


Assim que voltei para casa estava ótima e imaginando que nunca mais sentiria vontade de usar drogas, mas isso não está acontecendo. Sei que estou desintoxicada, tenho uma vida com boa alimentação, pratico esportes e estou bem fisicamente.


Só que estou de volta ao mesmo lugar, encontrando os mesmos amigos e isso não está sendo bom. Sinto nascer dentro de mim aquele fogo, aquela tentação, aquela sede por esta droga dos infernos.


Preciso ser forte para não ter uma recaída. Sei que a minha cura depende exclusivamente de mim, da minha força de vontade e tenho que vencer essa batalha comigo mesma todos os dias.
Diariamente ao nascer do sol venho para a praia fazer a minha caminhada na areia, respiro esse ar, sinto o cheiro do mar que me enche de energia para esquecer de tudo e conseguir vencer esse mal.


Sempre ao caminhar encontro garrafas fincadas na areia e foi olhando para elas que me veio a vontade de escrever cartas contando as minhas aflições diárias e hoje segue a primeira de muitas que levarão consigo, para bem longe, esse mal que está aqui dentro de mim.


Amanhã será outro dia, outra garrafa encontrarei e mais uma carta escreverei entregando ao mar que, mesmo sem destino, irá atravessar os mares e em algum lugar irá pousar.

Se em algum lugar alguém a encontrar leia com atenção, reze pela minha recuperação e saiba o grande mal que as drogas fazem.

Saiba que muitas outras cartas seguirão e não sei aonde irão chegar, mas tenho a certeza que passará um dia que se multiplicará e logo, será um mês, um ano, uma nova vida! Este é o milagre que espero de uma nova vida sem drogas.

Aqui me despeço esperando chegar amanhã neste mesmo lugar.

Diva

"A cada dia uma nova esperança"

RSantos



24a. Edição Remetente
Tema: Livre



Participação também 43a. Edição Cartas
Projeto Bloíquês 20/05/11 21:53
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